Karine de Jesus é estudante do 6° semestre do curso de Psicologia no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP) e foi a estudante aprovada no processo seletivo de iniciação científica, que ocorreu no final do semestre passado. Nessa entrevista, ela nos conta um pouco sobre suas expectativas e motivações para a dedicação à pesquisa.
Como tem sido sua experiência na Universidade até aqui?
A minha experiência na Universidade se dá de forma complexa. Me recordo que em meu primeiro ano de graduação o sentimento de inadequação e de “não lugar” era significativo, me levando a duvidar sobre meu pertencimento neste ambiente. Logo nos primeiros momentos a defasagem de ensino e de oportunidades foi acentuada, quando as inevitáveis comparações com outros estudantes começaram a emergir. Contudo, com o apoio das amizades que construí e das trocas junto ao coletivo negro do Instituto, o Escuta Preta, pude compreender a legitimidade do meu direito de estar na Universidade de São Paulo. Assim, minha experiência tomou uma nova perspectiva na qual passou a ser gratificante e por esse motivo consigo ter orgulho ao reconhecer onde cheguei e o potencial que tenho para conquistar mais.
O que te motivou a buscar a iniciação científica?
O que me motivou a buscar a iniciação científica foi o esclarecimento sobre a importância que tal experiência tem em meu currículo acadêmico, assim como para oportunidades futuras em pesquisas de pós-graduação, como mestrado e doutorado. Também fui motivada pela oportunidade de pesquisar sobre um tema que atravessa minha vivência pessoal na universidade. Os limites e possibilidades para o bem viver de estudantes negros no ensino superior está presente desde o meu primeiro dia na Universidade de São Paulo. Pelo prisma de ser uma mulher negra de pele clara, formada pelo ensino público do estado de São Paulo e cotista PPI (pretos, pardos e indígenas) no Sistema de Seleção Unificada (SISU), em todos os momentos me deparo com os limites para o meu bem viver e de estudantes com trajetórias parecidas com a minha. Esse fato me impulsiona a refletir sobre quais possibilidades temos para ampliar e assegurar que os estudantes negros possam ter uma formação com qualidade acadêmica e de bem estar subjetivo.
Como escolheu o tema de pesquisa?
O tema do bem viver de estudantes negros no ensino superior captou minha atenção por sua proximidade com a minha vivência pessoal. Acredito que minha trajetória é um aspecto que contribui para tal produção quando agregada à literatura e resultados brutos da pesquisa aplicada. Sendo assim, partindo da literatura e resultados, minha trajetória pessoal poderá ampliar meu espectro de reflexões, análises e compreensão dos produtos que virão a surgir dos trabalhos do grupo.

“Espero que através dessa pesquisa possamos apresentar novas perspectivas para o Bem Viver dos estudantes negros[…]. Bem como, apresentar caminhos e políticas que podem, e devem, ser adotadas para dessa forma, possibilitar uma vivência prazerosa e inclusiva para esses estudantes.”
Karine de Jesus, estudante de Psicologia.
Para você, qual a contribuição de uma iniciação científica para a graduação universitária?
Entendo a iniciação científica como enriquecedora em vários âmbitos. Primeiramente, posso citar que essa nos apresenta ao universo da pesquisa científica e de seu rigor metodológico. Outro ponto que é possível ressaltar é que a iniciação científica assegura o destaque do currículo acadêmico frente a outros, o que pode se desdobrar em oportunidades de intercâmbio de pesquisas no exterior, ou mesmo impulsionar o acesso à pesquisas e financiamentos para pós-graduação.
Como você conheceu o grupo de pesquisa – Bem Viver USP?
Meu primeiro contato com o grupo de pesquisa Bem Viver USP foi através de conversas entre o coletivo negro do IPUSP, Escuta Preta, e o Professor Alessandro. O Professor Alessandro nos apresentou o seu grupo de pesquisa, frisando que estava aberto para nos receber caso quiséssemos conhecer suas produções. Ademais, membros do grupo de pesquisa que também participavam do Escuta Preta acrescentavam às discussões do coletivo suas vivências e experiências junto ao grupo, ampliando assim meu conhecimento sobre esse.
Quais são suas expectativas para a Iniciação Científica?
Com essa iniciação científica espero poder extrair muito conhecimento acadêmico e pessoal, visando sempre colaborar e agregar ao grupo de pesquisa. Espero que através dessa pesquisa possamos apresentar novas perspectivas para o Bem Viver dos estudantes negros, partindo de um mapeamento preciso, coerente e elucidativo sobre as atuais condições de tais estudantes na Universidade de São Paulo. Bem como, apresentar caminhos e políticas que podem, e devem, ser adotadas para dessa forma, possibilitar uma vivência prazerosa e inclusiva para esses estudantes.