Seminário Aberto 13/09: “Por uma Psicologia Afrocentrada no Brasil: uma proposta de ensino, pesquisa e extensão”

Grupo de Pesquisa: Psicologia e Relações Étnico-Raciais, convida para o seminário aberto:
“Por uma Psicologia Afrocentrada no Brasil: uma proposta de ensino, pesquisa e extensão”, apresentado pela Professora Dra. Simone Gibran Nogueira.

Dra. Simone Gibran Nogueira é graduada em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos (2003), mestra em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (2007) e doutora em Programa de Estudos Pós-Graduados (PEPG) em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2013), com bolsa CAPES de doutorado sanduiche na Georgia State University em Atlanta/EUA. Pós-doutora em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Atualmente, pesquisadora colaboradora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, pesquisadora do Coletivo de Salvaguarda da Capoeira de Campinas.

O Seminário é aberto e gratuito! Inscrições podem ser feitas enviando um e-mail com nome completo para o endereço: bemviverusp@gmail.com. O link de acesso será enviado no dia do evento para o e-mail dos inscritos.

Grupo de Pesquisa: Psicologia e Relações Étnico-Raciais, seleciona bolsista para vaga de Treinamento Técnico III (Inscrições até 24/09/2021)

O Projeto Jovem Pesquisador “Limites e possibilidades para o bem viver de estudantes negros em instituições de ensino superior” recebe, até 24 de Setembro de 2021, inscrições para uma vaga de Treinamento Técnico III com bolsa da FAPESP. As atividades são conduzidas pelo Grupo Bem Viver da Universidade de São Paulo (IP-USP).

Esse projeto que tem como objetivo descrever e analisar o bem viver de estudantes em instituições de ensino superior, investigando seu bem-estar subjetivo, os episódios de preconceito e discriminação étnico-racial no ambiente acadêmico, os serviços de acolhimento e assistência psicossocial que são oferecidos pelas universidades, as formas de organização dos estudantes e o apoio oferecido por suas famílias para continuidade dos estudos.

O processo seletivo para a bolsa é de responsabilidade do coordenador do projeto, o professor Alessandro de Oliveira dos Santos e se destina a profissionais graduados em nível superior na área de ciências humanas e/ou da saúde, com ausência de reprovações em histórico escolar e com experiência com produção e divulgação de
conteúdos em mídias sociais
; desejável experiência em pesquisa científica.

A bolsa de Treinamento Técnico TT-III tem um valor mensal de R$1.228,40 e duração de até 24 meses, dependendo do desempenho do bolsista.

Os interessados devem enviar e-mail ao professor Alessandro de Oliveira dos Santos (alos@usp.br)  com o assunto “Bolsa TT-III”” e os seguintes documentos: redação de até duas laudas sobre o tema do projeto, cópia de histórico escolar atualizado e certificado de conclusão do curso de graduação, endereço e contato de duas pessoas (professores, pesquisadores, entre outros) indicadas a título de referências pessoais do candidato e súmula curricular no modelo FAPESP (www.fapesp.br/en/6351), contendo endereço completo, e-mail e telefone para contato.

O processo seletivo será dividido em duas etapas:

Fase 1 – Entrega de redação de até duas laudas sobre o tema do projeto, cópia de histórico escolar atualizado e certificado de conclusão do curso de graduação, endereço e contato de duas pessoas (professores, pesquisadores, entre outros) indicadas a título de referências pessoais do candidato e súmula curricular no modelo FAPESP (www.fapesp.br/en/6351), contendo endereço completo, e-mail e telefone para contato.

Fase 2 – Entrevista por teleconferência no dia 30/09/2021 a partir das 13hs para os candidatos selecionados na fase 01 do processo seletivo.

O edital completo pode ser acessado aqui:

Outras vagas de bolsas, em diversas áreas do conhecimento, estão no site FAPESP-Oportunidades, em www.fapesp.br/oportunidades.

Professor Carlos Vinicius Gomes participa de mesa “A Nossa identidade Racial é mais que uma Cor”, em projeto da UFAL

Projeto “Educar para as Relações Étnico-Raciais a partir do Ensino da Sociologia“, desenvolvido pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) em parceria com a Escola Prof. Arthur Ramos, recebe o psicólogo, professor e membro do grupo Bem-Viver USP, Carlos Vinicius Gomes, para a mesa “A Nossa Identidade Racial é mais que uma Cor“.

Além do professor, a mesa será composta por Rosângela Jacinto Cabral, psicóloga e mestre em Psicologia pela UFAL e integrante do Grupo de Pesquisa Processos Culturais, Políticas e Modos de Subjetivação, na mesma Universidade.

O evento ocorrerá no dia 25/08/2021 a partir das 9:00 da manhã e poderá ser acompanhado ao vivo no canal do Youtube da Escola Arthur Ramos.

Conforme palavras da organização, esse projeto tem o objetivo de “garantir a inclusão do debate sobre relações étnico-raciais, numa perspectiva descolonizadora, com estímulo à uma reflexão histórica sobre as relações de poder na sociedade brasileira”.

Contamos com a sua presença!

Professora Jackeline Romio fala sobre os 15 anos da Lei Maria da Penha

Dra. Jackeline Aparecida Ferreira Romio, membro do grupo Bem-Viver USP, é a convidada para falar sobre os 15 anos da Lei Maria da Penha no programa Olhar da Cidadania, do Observatório do Terceiro Setor na Rádio USP. 

Professora Jackeline é doutora e mestre em demografia pelo Instituto de Filosofia e Ciência Humanas da UNICAMP. Desenvolve pesquisas interdisciplinares sobre os feminicídios, a violência e a relação entre as opressões raciais, de gênero, sexo e de classe social e epistemologias feministas decoloniais. Sua tese de doutorado defendida na Unicamp intitulou-se: Feminicídios no Brasil, uma proposta de análise com dados do setor de saúde. Sendo referência de pesquisa sobre o estudo do feminicídio no Brasil.

É possível acompanhar o programa na quarta-feira (18/08), às 17h, pelas frequências 93,7 FM em São Paulo e 107,9 FM em Ribeirão Preto, ou pelo site http://jornal.usp.br/RADIO.

Logo depois, o programa estará disponível no portal do Observatório (https://observatorio3setor.org.br/podcast-o-olhar-da-cidadania/) e nas principais plataformas de podcasts, como Spotify, Deezer e Google Podcasts.

Entrevista com Karine de Jesus, nova estudante do grupo Bem-Viver USP

Karine de Jesus é estudante do 6° semestre do curso de Psicologia no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP) e foi a estudante aprovada no processo seletivo de iniciação científica, que ocorreu no final do semestre passado. Nessa entrevista, ela nos conta um pouco sobre suas expectativas e motivações para a dedicação à pesquisa.

Como tem sido sua experiência na Universidade até aqui?

A minha experiência na Universidade se dá de forma complexa. Me recordo que em meu primeiro ano de graduação o sentimento de inadequação e de “não lugar” era significativo, me levando a duvidar sobre meu pertencimento neste ambiente. Logo nos primeiros momentos a defasagem de ensino e de oportunidades foi acentuada, quando as inevitáveis comparações com outros estudantes começaram a emergir. Contudo, com o apoio das amizades que construí e das trocas junto ao coletivo negro do Instituto, o Escuta Preta, pude compreender a legitimidade do meu direito de estar na Universidade de São Paulo. Assim, minha experiência tomou uma nova perspectiva na qual passou a ser gratificante e por esse motivo consigo ter orgulho ao reconhecer onde cheguei e o potencial que tenho para conquistar mais.

O que te motivou a buscar a iniciação científica?

O que me motivou a buscar a iniciação científica foi o esclarecimento sobre a importância que tal experiência tem em meu currículo acadêmico, assim como para oportunidades futuras em pesquisas de pós-graduação, como mestrado e doutorado. Também fui motivada pela oportunidade de pesquisar sobre um tema que atravessa minha vivência pessoal na universidade. Os limites e possibilidades para o bem viver de estudantes negros no ensino superior está presente desde o meu primeiro dia na Universidade de São Paulo. Pelo prisma de ser uma mulher negra de pele clara, formada pelo ensino público do estado de São Paulo e cotista PPI (pretos, pardos e indígenas) no Sistema de Seleção Unificada (SISU), em todos os momentos me deparo com os limites para o meu bem viver e de estudantes com trajetórias parecidas com a minha. Esse fato me impulsiona a refletir sobre quais possibilidades temos para ampliar e assegurar que os estudantes negros possam ter uma formação com qualidade acadêmica e de bem estar subjetivo.

Como escolheu o tema de pesquisa?

O tema do bem viver de estudantes negros no ensino superior captou minha atenção por sua proximidade com a minha vivência pessoal. Acredito que minha trajetória é um aspecto que contribui para tal produção quando agregada  à literatura e resultados brutos da pesquisa aplicada.  Sendo assim, partindo da literatura e resultados, minha trajetória pessoal poderá ampliar meu espectro de  reflexões, análises e compreensão dos produtos que virão a surgir dos trabalhos do grupo.

“Espero que através dessa pesquisa possamos apresentar novas perspectivas para o Bem Viver dos estudantes negros[…]. Bem como, apresentar caminhos e políticas que podem, e devem, ser adotadas para dessa forma, possibilitar uma vivência prazerosa e inclusiva para esses estudantes.”

Karine de Jesus, estudante de Psicologia.

Para você, qual a contribuição de uma iniciação científica  para a graduação universitária?

Entendo a iniciação científica como enriquecedora em vários âmbitos. Primeiramente, posso citar que essa nos apresenta ao universo da pesquisa científica e de seu rigor metodológico. Outro ponto que é possível ressaltar é que a iniciação científica assegura o destaque do currículo acadêmico frente a outros, o que pode se desdobrar em oportunidades de intercâmbio de pesquisas no exterior, ou mesmo impulsionar o acesso à pesquisas e financiamentos para pós-graduação.

Como você conheceu o grupo de pesquisa – Bem Viver USP?

Meu primeiro contato com o grupo de pesquisa Bem Viver USP foi através de conversas entre o coletivo negro do IPUSP, Escuta Preta, e o Professor Alessandro. O Professor Alessandro nos apresentou o seu grupo de pesquisa, frisando que estava aberto para nos receber caso quiséssemos conhecer suas produções. Ademais, membros do grupo de pesquisa que também participavam do Escuta Preta acrescentavam às discussões do coletivo suas vivências e experiências junto ao grupo, ampliando assim meu conhecimento sobre esse.

Quais são suas expectativas para a Iniciação Científica?

Com essa iniciação científica espero poder extrair muito conhecimento acadêmico e pessoal, visando sempre colaborar e agregar ao grupo de pesquisa. Espero que através dessa pesquisa possamos apresentar novas perspectivas para o Bem Viver dos estudantes negros, partindo de um mapeamento preciso, coerente e elucidativo sobre as atuais condições de tais estudantes na Universidade de São Paulo. Bem como, apresentar caminhos e políticas que podem, e devem, ser adotadas para dessa forma, possibilitar uma vivência prazerosa e inclusiva para esses estudantes.

Relações étnico-raciais e a inclusão na universidade” é tema de mesa em evento da FFLCH

O coordenador do grupo de pesquisa Bem-Viver USP, Professor Alessandro Santos, participará da mesa Relações étnico-raciais e a inclusão na universidade no Ciclo de Jornadas Saúde Mental, Saúde Física e Educação em Tempos de Pandemia. da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

O evento ocorrerá no dia 1 de setembro de 2021, às 10:30 em formato exclusivamente online e será transmitido ao vivo pelo canal do Youtube uspfflch, através do link: https://youtu.be/khusLYEkirk.

Esperamos vocês lá!

USP/FAPESP seleciona estudante para vaga de Doutorado Direto (Inscrições até 19 de Agosto de 2021)

O Projeto Temático “Limites e possibilidades para o bem viver de estudantes negros em instituições de ensino superior” recebe, até 19 de Agosto de 2021, inscrições para uma vaga de doutorado direto com bolsa da FAPESP. As atividades são conduzidas pelo Grupo Bem Viver da Universidade de São Paulo (IP-USP).

Esse projeto que tem como objetivo descrever e analisar o bem viver de estudantes em instituições de ensino superior, investigando seu bem-estar subjetivo, os episódios de preconceito e discriminação étnico-racial no ambiente acadêmico, os serviços de acolhimento e assistência psicossocial que são oferecidos pelas universidades, as formas de organização dos estudantes e o apoio oferecido por suas famílias para continuidade dos estudos.

O processo seletivo para a bolsa é de responsabilidade do coordenador do projeto, o professor Alessandro de Oliveira dos Santos e se destina a profissionais graduados em nível superior na área de ciências humanas e/ou da saúde, com ausência de reprovações em histórico escolar, conhecimento da língua inglesa e aprovação de 02 trabalhos para publicação (artigo, capítulo de livro ou livro) ou de 02 trabalhos já publicados, ou ainda de 01 trabalho publicado e de 01 trabalho aceito para publicação.

A vaga está aberta a brasileiros e estrangeiros e o bolsista selecionado desenvolverá um subprojeto sobre o suporte social oferecido pelas famílias de estudantes universitários negros para continuidade de seus estudos. A Bolsa de Doutorado Direto fornecida pela FAPESP tem duração de 48 meses e valor mensal de R$ 2.043,00 no primeiro ano, R$ 2.168,70 no segundo ano, R$ 3.010,80 no terceiro ano e R$ 3.726,30 no quarto ano. Um auxílio financeiro(reserva técnica) equivalente a 20% do valor anual da bolsa será concedido para despesas diretamente relacionadas às atividades de pesquisa. Os requisitos e benefícios estão disponíveis no site da Fapesp.

Os interessados devem enviar e-mail ao professor Alessandro de Oliveira dos Santos (alos@usp.br)  com o assunto “Bolsa DD-FAPESP” e os seguintes documentos: histórico escolar, diploma de graduação, comprovante de trabalhos publicados ou aceitos para publicação e súmula curricular no modelo FAPESP (www.fapesp.br/en/6351), contendo endereço completo, e-mail e telefone para contato.

O edital completo pode ser acessado aqui:

Outras vagas de bolsas, em diversas áreas do conhecimento, estão no site FAPESP-Oportunidades, em www.fapesp.br/oportunidades.

Superintendência de Assistência Social (SAS) da USP – divulga diretório de saúde mental

A Superintendência de Assistência Social (SAS) da USP divulgou nesta semana um artigo chamado diretório de saúde mental com um levantamento dos serviços de atendimento em Saúde Mental disponíveis na Universidade e que podem ser acessados pela comunidade universitária e pela comunidade em geral.

O artigo conta com serviços direcionados para diversos públicos, desde crianças à idosos e populações específicas como indígenas e profissionais da saúde. O artigo completo pode ser acessado neste link.

Mais professoras da USP, se manifestam contra “Ideário meritocrático e produtivista” que adoece os alunos

Após sequência de suicídios na USP, diversos grupos têm se manifestado em favor de mudanças estruturais que garantam o acolhimento dos estudantes. Na semana passada divulgamos aqui uma carta assinada por professores negros. E agora, um grupo de professoras se manifestou em artigo na Adusp.

O grupo questiona “Como pode haver excelência se as políticas de acolhimento estudantil são tão precárias?” Para elas:

“A USP muitas vezes parece expressar, em discursos e medidas institucionais, que ações afirmativas e benefícios sociais são uma espécie de generosidade que vai além de sua esfera de atuação. Parece ter sido forçada a adotar um sistema de reserva de vagas, sem escolha diante dos dados irrefutáveis sobre a eficácia das cotas.”

Trecho do artigo

O artigo aborda ainda a insuficiência de contratações de profissionais e consequente sobrecarga vivenciada por assistentes sociais que trabalham com o acolhimento de estudantes na Universidade e denuncia que:

“A naturalização de supostos lugares subalternos permanece nos “detalhes” da administração”

Trecho do artigo

O artigo completo pode ser acessado neste link, e é assinado pelas professoras:

Professora Elizabete Franco Cruz, EACH
Professora Soraia Chung Saura, EEFE
Professora Heloisa Buarque de Almeida, FFLCH
Professora Ana Flavia Pires Lucas D Oliveira, FM
Professora Adriana Marcondes Machado, IP
Professora Maria Luiza Schmidt, IP
Professora Patrícia Izar, IP
Professora Christina Brech, IME
Professora Elizabeth Lima, TO/FM
Professora Silvana Nascimento, FFLCH
Professora Cláudia Vianna, FE
Professora Vima Lia de Rossi Martin, FFLCH
Professora Sylvia Gemignani Garcia, FFLCH

Sentimento de não pertencer é um desafios para os negros nas universidades, por Cida Bento

De quantas diferentes maneiras as instituições sinalizam ‘aqui não é seu lugar’?

Durante muitos anos, como estudante de doutorado e depois como pesquisadora na USP (Universidade de São Paulo), senti, repetidas vezes, o desconforto e o estranhamento das pessoas diante de minha presença e circulação em certos espaços da universidade.

Participando de bancas examinadoras de mestrado e doutorado, o estranhamento de ter uma mulher negra nesse lugar acadêmico aparecia de maneira mais intensa.

De certa maneira, o olhar que expressa a pergunta “o que faz você aqui?” é uma das tantas possibilidades de reação de profissionais de instituições brasileiras diante da presença negra em lugares onde ela não era esperada. Reflete ainda o longo caminho a percorrer no território do enfrentamento do racismo institucional por organizações públicas ou privadas.

Com a ampliação da presença da juventude negra na universidade, com certeza essa reação se acentua

Lembrei-me muito dessas ocorrências nos últimos dias após o suicídio de jovens negras e negros na USP. E a contundente carta de docentes negros exigindo medidas urgentes, já que, antes dos trágicos desfechos, não faltaram pressão, denúncias e alertas ao longo dos anos, evidenciou que é preciso uma atuação mais sistêmica da universidade diante dos desafios enfrentados pelo seu alunado negro.

O sentimento de não ter um lugar, de não pertencer, sentir-se rejeitado e humilhado que ocorre nesses episódios se encontra entre os elementos que podem provocar a depressão e o suicídio.

Assim, um dos grandes desafios que constatamos na atualidade, período em que vem se intensificando e se tornando cada vez mais visível o debate sobre racismo, é provocar as instituições públicas e privadas a olhar para si próprias de modo a identificar em sua estrutura os sinais do que as tornam tão excludentes e inóspitas, principalmente para a população jovem e negra.

De quantas diferentes maneiras sinalizam “aqui não é seu lugar”?

Há inúmeros estudos mostrando como o eurocentrismo se manifesta nos currículos, nas bibliotecas, nos espaços físicos, no perfil das lideranças institucionais, de professores e alunos, nos espaços universitários brasileiros.

E uma pressão crescente da juventude negra vem questionando esses espaços monolíticos e monocromáticos.

E aí surge o medo. Medo da derrubada de tudo que assegurou os privilégios da branquitude, nas diferentes instâncias da universidade, em particular o temor da derrocada do “sistema meritocrático”, que, desconsiderando as históricas desigualdades de pontos de partidas e de enfrentamento cotidiano da discriminação, afirma que “os que têm competência se estabelecem”.

No entanto, não são apenas mais “caras pretas” na universidades. São outras experiências de vida, que se deram em outros tipos de território e que anunciam a urgente e inevitável democratização dos espaços universitários.

A pandemia vem intensificando os desafios desse contexto enfrentado pela população que está entre aqueles que mais vão a óbito pela Covid-19, pela sua própria situação de vulnerabilidade no país. Sem dúvida a população jovem e negra tem muitas razões para se sentir angustiada, sem saída.

Nada mais ameaçador do que saber que o jovem negro, entre 10 e 29 anos de idade, compõe o perfil das pessoas que mais cometem suicídio no Brasil, segundo o Ministério da Saúde (2019), num cenário no qual não existem políticas públicas específicas de prevenção.

Também são jovens de até 29 anos aqueles mais sujeitos à violência letal das forças policiais, segundo o Mapa da Violência de 2020.

Assim, a criação de instâncias institucionais que possam assegurar a efetividade do direito à educação, conforme define nossa Constituição, torna-se urgente.

Essas novas instâncias, se alinhadas aos princípios da equidade racial, têm grandes chances de transformar a universidade em um lugar acolhedor e saudável para os alunos que passaram a frequentá-la com maior presença nos últimos anos.

Texto de Cida Bento
Diretora-executiva do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP

Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/cida-bento/2021/06/sentimento-de-nao-pertencer-e-um-desafios-para-os-negros-nas-universidades.shtml